Às vezes olho
para seja o que for
e vejo-me reflectido.
Cheio de substância
incompreensível,
vontade sem motivo
inteligência sem razão.
Tudo fora do pensamento
é fito disto.
Qualquer coisa não pensada
tem disto.
Isto que não sei o que
é porque não lhe
posso raciocinar um nome,
não sei porque é porque
não tem motivo humano
de ser, nem tem para
quê existir porque não
há necessidade emocional
a corresponder nem
instinto carnal de sobrevivência
para se alimentar.
Isto tudo ao contrário
sou eu e no entanto
olho-me no mundo e
não sou assim, só penso ser.
Adorava terminar
tudo o que escrevo
como se cada vez
que escrevesse
fosse a última,
não porque desisti
da poesia mas
porque fiz com que toda
a minha poesia
ficasse feita num poema
mas falhando
tento escrever cada poema
como cada segundo
faz parte da eternidade,
mas não consigo encerrar
a cada poema-segundo
toda a vida, como a cada
segundo se encerra a vida toda,
como no prender de um
instante em que
estou reflectido
vejo a vida toda
e não preciso de viver
nem mais um segundo,
nem escrever mais um poema.
Este contínuo encerrar
de instantes perfeitos,
porque continua?
Tenho a sensação
que o mundo acabou
há muito tempo atrás
e que a humanidade
desdobrou a sua existência
pensando no instante
perfeito em
que se viu reflectida
imaginando-se através dos
tempos, não podendo
morrer cada vez que pensa.
24/6/2015
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