Eu escrevo porque
não tenho uma
mão para segurar.
E mesmo que
tivesse não a
teria.
Quem tem o quê
que não lhe possa
ser tirado?
Que calor pode
alguém me dar
que o frio de
existir não
me tire?
É-me tudo
terrivelmente
amargo quando
escrevo mas ao
menos é.
É viver tão mais
agradável quando
travo uma guerra,
quando se dá a
algo que não
pode dar de volta.
Amo os livros
e cadernos e poesia,
porque lhes dou tudo
o que quero e sei
que eles não me
darão nada, só o
que eu conseguir
tirar.
Não amo pessoas
porque no jogo de dor
que é o de equilibrar
não recebo o prazer,
saio sempre a perder.
Não tenho forma
de me curar porque
não estou doente.
Só preciso de ficar
sozinho e desejar
não estar.
Só preciso de me
fechar no quarto
e desejar sair.
Só preciso que o
amor me venha
bater à porta para
o recusar.
Só preciso que morra
alguém para não
deitar lágrimas.
Só preciso de precisar...
Se pudesse ficar
satisfeito seria
como qualquer um,
ou nada, não
fico satisfeito
porque tudo é
bom, tudo é
como tem de ser,
está tudo bem
e por isso eu
só posso ficar
como a peça que
falta, mal.
Estou constipado
do frio que faz la fora
e eu não sinto.
Estou com febre
duma doença que
não tenho.
Estou triste pelo
mundo todo,
verdadeiramente
triste.
Todos os meus
amigos morreram
e nunca os pude
conhecer e todos
os meus novos
amigos estão
por nascer.
Falo de tudo isto
que me aflige
porque vi um casal
dar a mão no metro,
vi como ela
olhava para ele,
no reflexo do vidro,
compreendendo-o,
e vi-me depois
olhando para mim
através deles e
senti-me perdido.
Não terei ninguém
a olhar para mim
assim, porque
não posso ser
entendido.
Não tenho nada
a se entender.
Sou o vazio que
falta ao tudo
que existe.
15/3/2015
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