Os lençóis da cama estão bem presos.
O caderno que é meu é bem feito.
A ética que leio bem cantada.
A minha mente estranhamente positiva.
As rotinas confortavelmente saudáveis.
E o coração inquieto como se
esperasse que tudo ruísse.

É assim que o meu motor
funciona agora:
A parte de mim que chora,
agora dorme bem presa
nos lençóis quentes.
As palavras que me assombravam
descansam e acordam como
novas e boas.
O que devo fazer é justo e
mais universal e por isso,
soa-vos melhor.
A minha mente deixou o
seu lado demente, rodou
para a esquerda e deitou-se
confortavelmente partilhando
os lençóis  com o choro.

Sinto-me forte porque
me convenci disso.
E como se tudo fosse
aquilo que é, o meu
coração suspira enquanto
tudo se acalma.
Suspira com um sopro
de morte no fim.
Ai que vivo tanto,
que sou tão bom,
tão cantado e
descansado que
só me falta
morrer.
Sem esperança de voltar.
Porque quem  no mar
encontra onde pescar
não tem motivo para
navegar.

Então porque se sente
o meu coração tão inquieto?
Há tanto peixes no mar,
quer eu pare ou continue
a pescar.
Ele bate, eu sinto.
Ele bate e eu lhe minto.
E é parado que olho
para o céu e vejo
as aves baterem asas
e nunca me senti
tão compreendido.
O ritmo do mar enjoa-me,
entorpece-me e torna-me
domado pela sua
grandeza.
E eu vejo as aves e o
seu ritmo e é
como se elas fizessem
o próprio ar.
Como se ele não tivesse
ritmo se não houvesse
quem o voar.
Presto atenção nas
asas e sinto
que umas me crescem
onde a batida do
meu coração não
era entendida.
O meu ritmo é o ar,
porque o ar e voar é
quem o voa e o mar
é para quem não vai
além dele e quem vai
afunda-se.
Eu faço-me
Eu canto-me.
Eu aconchego-me com
as minhas asas.
E durmo por cima de tudo
em mim.

24/10/2013