quinta-feira, 17 de outubro de 2013

À medida que acabam
as páginas e
vejo a negra capa da
parte de trás do caderno
ficar mais próxima a
cada folha que
escrevo, viro-as com
a confiança cega de
que nunca vão acabar
E que me irei escrever
em relações com o
mundo.
E tal como alguém
que vive sem saber
que está vivo, quando
capas negras do fundo
do caderno de alguma
coisa na vida aparecem
no caminho eu paro.
Paro e olho a
capa negra.
Ao longo do tempo
ela ganha
espaço na mente
fica maior e é
como se tapasse
a luz que me deixa
escrever e então
nem capa negra
vejo, só a sinto
como um pesar
nocturno.

Não devia haver escrita
sem vida.
Tal como falta a minha
imagem no espelho.
Parado, penso em seguir
e deixar capas, letras
e espelhos para trás.
Mas eles são a minhaa
matéria e sem eles
não existo.

Não há demónios
como espelhos e anjos
como a morte.
E com tudo o que de
mim é mau
escrevo um poema
que leio no escuro
em frente à capa
e nas minhas palavras
um pouco de morte
desce como salvação
e o negro ilumina-se
através das suas
tão próprias entrelinhas
por se ver reflectida
e morre porque é
ela mesma o mundo
que vê.
E como falha nas
contas da vida e
um acerto com a
morte vivo
deixando aberto o
caderno, arrancando
a última folha e
suspirando a última
palavra como alegria
de saber que não há
dias, nem poemas
como aqueles em
que se morre,
para viver além de si.

10/10/2013

Sem comentários:

Enviar um comentário